Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Deus

«O Deus de que Caeiro dá sinal com esta linguagem significativamente repetitiva, destituída de metáforas (porque cada palavra tem que valer por si e não por remeter para uma realidade alheia) é, se Deus se lhe quiser chamar, plural, é deuses - embora Caeiro se abstenha sempre de os nomear. Não tem a unidade abissal e nocturna do deus cristão mas a pluralidade variegada e solar da «terra materna» de que Caeiro é, segundo a expressão de Campos, o «espírito humano».
Campos escreve «cada coisa é uma escada para Deus» - no que, evidentemente, desobedece ao Mestre. Campos quer ser plural - «toda a gente e toda a parte», como diz no final da «Ode Triunfal»-porque «Deus é toda a gente». Quer atingir a unidade através da pluralidade. Caeiro não: cada coisa acaba em si própria (porque «a Natureza é só uma superfície»). Por mais bela que uma coisa seja, é bela porque o é, e não por remeter para outra coisa: «o luar através dos altos ramos / Não é mais / Do que o luar através dos altos ramos».»
Teresa Rita Lopes. Pessoa por Conhecer - Roteiro para uma expedição. Lisboa: Estampa, 1990, p. 232.
Ver: Cristo