Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Paùlismo


«Esta estética nova, que provoca o entusiasmo dos amigos do autor, é o que eles chamaram o «paulismo». Com efeito, o poema que o inaugura, escrito em 29 de Março de 1913, publicado somente no ano seguinte, mas que circulou imediatamente entre eles, Impressões do Crepúsculo, começa pela palavra «paúis», plural de «paúl», que significa pântano; [...]. O poema Paúis é de tradução difícil, e talvez, hoje, quase ilegível. É importante para a história literária e para a biografia do seu autor, transformando-o no chefe de um movimento que vai mudar a sensibilidade de toda uma época, mas não acrescenta nada de essencial à sua glória. Felizmente, no decurso do mesmo período, de Março a Dezembro de 1913, escreveu outros poemas, onde a mesma impressão fundamental - a de patinhar nos pântanos do ser, em vez de se lançar para a verdadeira vida - se exprime de uma forma muito menos alambicada. Em «Eis-me em mim absorto», em «Meus gestos não sou eu» ou no famoso «Ó sino da minha aldeia», o poeta renova o tema da saudade, essa nostalgia de não se sabe o quê tipicamente portuguesa, acentuando a consciência de si mesmo.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 184-185.