Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Fingimento

«Poder-se-ia talvez dizer que, se cada um dos poetas heterónimos, sobretudo Caeiro e Reis, incarna e exprime uma parte do ser de Pessoa, dilacerado entre postulações opostas, o poeta ortónimo incarna a própria dilaceração. Assim, a tonalidade constante da sua poesia elegíaca não é nem a felicidade fictícia de Caeiro, nem a serenidade afectada de Reis, ainda menos a alegria, rasgada por impulsos de desespero, de Campos, mas uma forma de melancolia inquieta, e contudo tranquila, que por sua vez também não exclui uma parte de ficção ou de afectação. Por ser uma palavra do poeta que se exprime, em princípio, sem máscara, não é por isso que diz necessariamente a verdade nua. Ela não pretende, como a dos Românticos, ser uma pura e simples confissão. Ela é estudada, procurada, talvez falseada.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 280