Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Mensagem

«Mensagem é, como Fausto e o Livro do Desassossego, a obra de quase toda uma vida. O poema mais antigo é datado de 21 de Julho de 1913 e o mais recente de 26 de Março de 1934. A diferença está em que todas as outras obras, excepto The Mad Fiddler, que ficou inédito, ficaram por acabar. A Mensagem é o único livro que Pessoa compôs, terminou, reviu e corrigiu, e finalmente publicou. Este livrinho de algumas dezenas de páginas é o mais importante e o mais representativo do seu génio singular. Se, de toda a sua produção multiforme, apenas se pudesse guardar uma única obra, seria com certeza esta, que a posteridade, cumprindo a profecia do jovem crítico de A Águia em 1912, acabou por reconhecer como um dos dois cumes da poesia portuguesa, sendo o outro Os Lusíadas.
Vimos que, no dia em que escreveu Gládio, que vai passar a chamar-se D. Fernando, Infante de Portugal  o poeta ainda não concebera o conjunto em que o poema se iria integrar. Parece que a ideia de um livro de poemas de inspiração nacional, centrado sobre os heróis da época das Descobertas, lhe terá vindo ao espírito na época «sidonista», em 1917-1918. É então que escreve a sequência de poemas publicados em revista em 1922 sob o título de Mar Português, e que vai constituir a parte central do livro. Após um período de seis anos em que o projecto parece abandonado, escreve, entre Setembro e Dezembro de 1928, uma nova sequência de poemas que, na sua maioria, serão integrados na primeira parte, e alguns na terceira e última. Ainda escreve alguns desses poemas entre 1929 e 1933. É provável que, durante todos esses anos, o projecto tenha amadurecido no seu espírito e que se tenha pouco a pouco afirmado o seu carácter original, que é o de unir numa mesma inspiração a exaltação do sentimento nacional, os mitos do Sebastianismo e do Quinto Império, o espírito da gnose e da tradição iniciática, em suma, a totalidade do que constitui a «visão Rosa-Cruz». Já em 1932, na sua carta a Gaspar Sirnões, ele fala de «Portugal, que é um livro pequeno de poemas (tem 41 ao todo)» como de um livro «quase pronto». Podemos contudo supor que é apenas entre Janeiro e Março de 1934 que concebe definitivamente a estrutura global que faz deste conjunto de elementos diversos um todo perfeitamente coerente. Escreve ou reescreve então um certo número de poemas. E é ainda mais tarde, quase no último momento, que decide mudar de título, a pretexto de que «o nome da nossa Pátria» estava então «prostituído e com os pés feridos», mas na verdade, sem dúvida, para melhor salientar que a epopeia da salvação nacional é, em sentido figurado, a aventura da salvação da alma pessoal: este livro épico e mítico é antes de mais espiritualista e místico.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 541-542.