Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Realidade

«Caeiro representa em Fernando Pessoa a "pavorosa ciência de ver", a exigência de positividade a que Pessoa obedece. Mas, enquanto, por um esforço sobre-humano, Caeiro postula que tudo neste mundo é objectivo, Pessoa, continuando a aceitar a realidade, acredita que tudo neste mundo é subjectivo. O nosso pensamento nasceu cego, embora saiba o que é ver. Decifra as formas pelo tacto, conjecturando-as como qualquer coisa cujo ser verdadeiro o mero apalpar envolve numa penumbra de erro. assim não pode ver as coisas mas apenas ter uma ideia mentirosa das coisas. (soneto 21) [...]
...estamos enclausurados, repartidos entre a aparência falsa acessível e a realidade inacessível. Daí... dor de viver (soneto 2)
...os fenómenos não passam dum grosseiro biombo (1)
Também Reis sofra com a vacuidade das coisas, o "decurso falso" dos dias, a "vastidão vã" do céu. Mas consola-se melhor ou pior com a filosofia de Caeiro: (1)
Fernando Pessoa, porém [...] se afirmou que a ciência, o sonho são inúteis, e o melhor é cingir a nós "a aparência absoluta da vida", vivê-la por fora, a verdade é que no íntimo não consegue escorraçar a inquietação, não confia na realidade fenomenológica [...]»
Jacinto do Prado Coelho. Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1973, p. ...