Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Sociologia

«Um dos seus postulados é que os fenómenos políticos são de natureza social. A única ciência política possível é uma sociologia. Mas não existe sociologia moderna. «Tomando a imagem da química, podemos dizer que a ciência chamada sociologia está ainda no seu período alquímico. De forte e seguro, em matéria sociológica ou política, pouco temos [...] a não ser a «Política» de Aristóteles, fruto de toda a experiência política da Grécia antiga, e «O Príncipe», de Machiavelli, fruto de toda a experiência política da Renascença.» Assim, Pessoa vai ter de inventar um tipo de investigação que não será nem fundamental nem aplicada. «Não nos interessa - escusado será dizê-lo - senão aquela parte que é teoria [...], a teoria preliminar da acção.» Baseia esse estudo no princípio dialéctico da resistência e do movimento. Nas sociedades «progressivas», como são as sociedades europeias modernas, «o que é fundamental se resume em duas forças - uma que tende a fazer progredir, outra que tende a resistir ao progresso.» Ora, de uma maneira geral, «tudo quanto vive, vive em virtude do equilíbrio de duas forças - uma força de integração e uma força de desintegração.» Podem existir duas formas de desequilíbrio, dependendo de qual das duas forças se impuser à outra. A predominância das forças conservadoras traz consigo a «estagnação», a das forças progressivas provoca a anarquia. Mas as duas situações acabam por convergir: nos dois casos, há decadência, «perda de coesão e de vitalidade» e «desnacionalização» parcial.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 358-359.