Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Livro do Desassossego

*
«Não tendo sido composto nem acabado, o Livro do Desassossego é, para todo o sempre, um «work in progress». Há todo um mundo entre os nobres devaneios de Na Floresta do Alheamento e a aspereza de certas análises ulteriores que desmistificam os preconceitos e as ilusões. Começado como uma recolha de ensaios e de textos poéticos em prosa assinados pelo próprio Pessoa, o Livro torna-se em seguida um jornal íntimo inicialmente atribuído a Vicente Guedes, e depois, bastante cedo, a um outro semi-heterónimo, Bernardo Soares, «ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa» (é assim que ele é apresentado nas revistas em 1929-1932), que para nós fica a ser o seu «autor» definitivo. Mas, também muito cedo, esse diário entrecortado de ensaios adquire um carácter romanesco, na medida em que o narrador, suposto autor, o é por uma ficção análoga à de todos os romances de análise redigidos na primeira pessoa, frequentes na tradição francesa. Por fim, o romance-diário tem também uma dimensão «dramática», visto que Soares, como Caeiro, Reis, Campos e os diversos poetas ortónimos (lírico, ocultista, inglês), é um dos personagens deste «Teatro do Ser» que é o conjunto da Obra.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 513.
* Jorge Guerra. Fotografia, 1994.