«O parentesco do estilo de Reis com o da Mensagem salta aos olhos. A mesma compressão do pensamento em frases curtas, densas, dogmáticas, que se apõem sem instrumentos gramaticais de ligação, embora por vezes subordinadas ou antitéticas quanto ao sentido; o mesmo pendor para a fórmula elíptica e um tanto hermética; vocabulário culto; transportes dum para outro verso a marcarem o predomínio dum intelecto antioratório, com o seu ritmo próprio. A mesma audácia inovadora: existir, por exemplo, como transitivo. Por detrás duma simplicidade sintáctica de água cristalina, uma profundidade de pensamento que só a pouco se revela [...].
Note-se entretanto que na Mensagem, onde é menos ostensiva, se bem que ainda característica, a latinização do léxico e da sintaxe, há sensivelmente mais variedade, mais cor, mais drama, aqui ou além um movimento épico. Os versos rimados, uma ordem frásica mais fluente, contribuem para lhe tirar boa parte da aspereza das odes de Reis.»
Jacinto do Prado Coelho.
Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1973, p. 151-2
