Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Religião

«O facto de Pessoa definir uma coisa - religião ou outra - como ficção não quer dizer que a considere falsa: «fingir é conhecer-se» afirmou pela boca de Campos num texto publicado em vida que é a chave de toda a sua arte, de toda a sua ciência, de toda a sua filosofia ó esses três sucedâneos a que recorreu quando, jovem revoltado, quis matar Deus e a Igreja Católica. Em sua substituição criou aquilo que chamou uma «religião individual» para que vai inventar rituais, um Profeta, um Mestre («o deus que faltava») com seus Discípulos e Evangelistas, como veremos.
As religiões tout-court aparecem-lhe como manifestações primárias da criatura humana, inferiores, portanto, porque o colectivo que representam «não analisa as ideias de que parte, mas as acceita», (como diz num texto inédito). «A metafísica começa com o espírito crítico» (afirma nesse mesmo texto). Mas acrescenta: «É fácil a metafísica passar para atitude religiosa. Muitas metafísicas não passam de religiões individuais.»
Teresa Rita Lopes. Pessoa por Conhecer - Roteiro para uma expedição. Lisboa: Estampa, 1990, p. 62.