Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Inconsciência

«Pessoa e os heterónimos são unânimes em exprimir a nostalgia do estado de inconsciência. [...] Até Caeiro, quando não se pinta como queria ser, lamenta desdobrar-se no eu que sabe:
«Os meus pensamentos são contentes. / Só tenho pena de saber que eles são contentes / Porque, se o não soubesse, / Em vez de serem contentes e tristes / Seriam alegres e contentes.»
E parece invejar a completa insciência das árvores. «Mas que melhor metafísica que a delas, / Que é a de não saber para que vivem / Nem saber que o não sabem?»
Campos, apesar do seu vitalismo postiço, traz consigo "o espinho essencial de ser consciente". Também nele os sentimentos pensam, e por isso admoesta o coração: «Pára, meu coração! / Não penses, deixa o pensar na cabeça!» E tão farto está de analisar, de esmiuçar, de ver «as subtilezas, o interstício, o entre» de fazer «metafísica das sensações», que desejaria ser folha de árvore titilada pela brisa ou poeira duma estrada [...].»
Jacinto do Prado Coelho. Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1973, p. 106-107.