Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Mora

*
«Regresso dos Deuses foi o título encarado para anunciar o que Mora chamará «metafísica nova e religião velha», e esteve para ser usado, como obra individual, ora por Mora ora por Ricardo Reis, sendo também encarado como uma série de publicações, espaço de «convívio» do «grupo» ó Campos colabora com as «Notas para a recordação...» - e de crítica dos «doentes» - assim chamados num destes planos . Neste texto, posterior às turbulências modernistas e, aparentemente, à morte de Sá-Carneiro (em 1916), o que parece ser uma obra em vários tomos contaria com um quinto volume que reuniria, sob a designação de «doentes», «Saudosismo. Interseccionismo. Sensacionismo». Um último tomo é assim anunciado: «Princípios fundamentais (as teorias de «Na c[asa] de s[aúde] de Cascais»)».
O facto de António Mora não ter desencadeado o interesse dos exegetas pessoanos deve-se, talvez, ao facto desse «autor» aparecer desligado de um suporte concreto. Caeiro é o Guardador de Rebanhos, Reis o «bebedor tranquilo», Campos o Engenheiro Sensacionista, Soares o pacato manga-de-alpaca da Baixa lisboeta. E Mora, que escreveu, contudo, muito mais páginas que as de Reis e Caeiro juntas, é um nome sem cara, assinando este ou aquele trecho de prosa, exprimindo esta ou aquela opinião. Sabe-se que é um pagão, mas, à míngua de elementos sobre suas feições e porte, não o vemos (verbo usado pelo próprio Pessoa, na carta a Casais Monteiro, quando começa a descrever os seus Heterónimos). Pessoa deixou, contudo, escondido no fundo da arca de uma ficção inédita, «Na Casa de saúde de Cascais», um retrato «à la minuta» de António Mora.»
Teresa Rita Lopes. Pessoa por Conhecer - Roteiro para uma expedição. Lisboa: Estampa, 1990, pp. 189-190.
* Miguel Yeco