Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Empresa Íbis

«Em 1907, graças a uma pequena herança que recebeu da avó Dionísia, entretanto falecida, o jovem Pessoa montou uma «Tipografia Editora», com «oficinas a vapor» e tudo, como reza o papel timbrado que da mesma imprimiu. Apesar da dita empresa, que até por sinal se chamou Íbis, ter ido rapidamente para a falência, Pessoa pensou utilizá-la para o projecto patriótico e cultural que já estabelecera, de contribuir para o engrandecimento e divulgação da cultura portuguesa. Definia, assim, em inglês, em tom confessional, num texto de 30/10/ 1908, publicado em Páginas Íntimas os seus «projectos patrióticos» para os quais se queixava da incompreensão de familiares e amigos ou conhecidos: «provocar uma revolução aqui, escrever panfletos portugueses, editar antigas obras literárias nacionais, criar um magazine, uma revista científica, etc.».
No que respeita aos «panfletos», vimos como O Fósforo e O Iconoclasta respondem ou tentam responder a esse propósito. Para a edição de «antigas obras literárias nacionais» fez extensas listas dos volumes a publicar.
Encarou, aliás, além da publicação em português, a tradução em inglês dessas obras «nacionais» com o patriótico intuito de definir e divulgar a cultura portuguesa. Disso encarregou até algumas personalidades literárias inglesas, nomeadamente o irmão de Alexander Search, Charles James Search.
Embora nunca tenha ultrapassado o estádio de projecto, a «Empresa Íbis» revela-lhe já todos os essenciais tropismos: o de ser um «criador de anarquias» para ser um «criador de civilização». Para essa tarefa mobilizou todos esses «outros» por quem já então se multiplicava, muitos dos quais entraram em cena no palco deste projecto. A «Empreza Íbis» foi, de facto, um dos primeiros espaços de revelação e convívio do romance-drama-em-gente. Os já citados Joaquim Moura Costa, Pantaleão, Vicente Guedes, Carlos Otto, até os irmãos Search tinham, como já vimos, um papel distribuído no projecto.»
Teresa Rita Lopes. Pessoa por Conhecer - Roteiro para uma expedição. Lisboa: Estampa, 1990, p. 112.