Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Iniciação

«Pôs-se a questão de saber se Pessoa terá sido ou não também um iniciado, um «adepto». É difícil imaginá-lo a submeter-se a provas semelhantes àquelas que descreve o biógrafo de Crowley, ou a participar em sessões como as que relata. Ele confirma-o no fim da sua carta de 13 de Janeiro de 1935 a Casais Monteiro: «Não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma». Contudo, na nota biográfica que redige em Março de 1935, declara-se «iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal». Só há uma única explicação possível para esta contradição, e é a adoptada por Crespo: «a auto-iniciação» de Pessoa, graças ao estudo dos escritos esotéricos de toda a espécie, e, acima de tudo, à prática da poesia. Sem que a palavra seja pronunciada, o Essay on Iniciation é, implicitamente, um manual de auto-iniciação: e vários outros fragmentos esparsos confirmam esta possibilidade de uma iniciação do terceiro tipo: ao lado da iniciação «exotérica» (como a «maçónica») e da iniciação «esotérica» (a «dos Rosa-Cruz»), existe uma iniciação «divina», na qual o neófito é instruído por contacto directo com o Espírito transcendente, sem a meditação de um Mestre carnal nem de uma instituição real: «Iniciado Divino é, por exemplo, um Shakespeare. A este tipo de iniciação vulgarmente se chama génio».»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 499-500.