Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Duas Vidas

«Pessoa diz através de Campos que «temos todos duas vidas: a verdadeira, que é a que sonhámos na infância [...]; a falsa, que é a que vivemos em convivência com outros.» Com efeito, parece ter vivido frontalmente essas duas vidas; sonhador acordado, imerso na multidão solitária sem nela se deixar afogar, simultaneamente ausente e presente na cidade dos homens. Espírito visitado e possuído por toda a espécie de interrogações, de pensamentos, de figuras irreais, de fantasmas, nem por isso deixou de ser um cidadão empenhado na vida pública do seu país, atento aos graves acontecimentos de que era testemunha. A política sempre o apaixonou. Uma boa parte da sua obra em prosa é feita de escritos de circunstância: cartas abertas, brochuras, panfletos, artigos sobre os dirigentes e partidos políticos, os sucessivos regimes (monarquia, república, ditadura); sobre a atitude de Portugal durante a guerra, o papel da opinião pública em democracia, Lenine, Mussolini, Salazar, etc.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 25.