Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Neopaganismo

«O Neopaganismo pretende ter um alcance civilizacional, embora seja concebido, bem à maneira pessoana, como uma ficção, «uma metafísica recreativa», que lhe fazia as vezes de religião - já que, como também disse num texto (que creio inédito), encimado pela designação «Teses fundamentais do Neopaganismo Português» - «não há profundo movimento nacional, movimento nacional profundamente renovador, que não seja um movimento cultural», assim como «não há profundo movimento cultural que não seja um movimento religioso». É assim que esse Quinto Império tão falado (que deveria suceder aos cristãos) seria... neopagão. O Messias que restabeleceria a grandeza perdida (não do domínio do ter mas do ser) seria, não o nevoento fantasma de D. Sebastião, mas esse Anticristo (que um rascunho do Ultimatum anuncia), essa Eterna Criança radiosa, como um sol de primavera: Alberto Caeiro.
O Neopaganismo tinha o seu Mestre e os seus discípulos - os Evangelistas que se puseram a difundir a sua «doutrina», cada um no seu género: António Mora como teórico em prosa (doutrinador e disciplinador), Ricardo Reis como o seu poeta. Estes os seus pilares, porque o próprio Campos se considerava e declarava pagão («por revolta», acrescentava), e Pessoa, na sua própria pessoa, outra coisa não fez ao longo da sua vida senão pugnar pelo exercício desse Espírito Crítico que rasgasse para a pátria-língua-portuguesa a aurora que anuncia no fim da Mensagem. »
Teresa Rita Lopes. Pessoa por Conhecer - Roteiro para uma expedição. Lisboa: Estampa, 1990, pp. 77-78.