Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Lucidez

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«Só por um fugaz optimismo o poeta admite que nos é possível entrever "o sentido / do que aqui está a esgarar". Fernando Pessoa, como ele diz em nome de Campos, está doido a frio: conserva uma lucidez implacável até nos momentos em que no seu espírito parece haver centelhas dum lume desconhecido; chama impiedosamente embriaguez ou sonho às experiências em que a parte irracional do seu ser julga vislumbrar o oculto. Daí o drama da sua vida de pensamento, que foi a vida autêntica desse homem sem biografia. [...] Compreendemos agora o sentido das palavras de Campos, ao dizer que o seu mestre Caeiro lhe ensinou "a clareza da vista" mas não lhe ensinou, porque não podia, "a ter a alma com que a ver clara". Caeiro representa em Fernando Pessoa a "pavorosa ciência de ver", a exigência de positividade a que Pessoa obedece. Mas, enquanto, por um esforço sobre-humano, Caeiro postula que tudo neste mundo é objectivo, Pessoa, continuando a aceitar a realidade, acredita que tudo neste mundo é subjectivo. Fica assim confinado aos sonhos, à ilusão, à mentira da subjectividade, pois não confere (Caeiro não lho permite) valor objectivo ao conteúdo das suas intuições.»
Jacinto do Prado Coelho. Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1973, p. 86-87.
* Gaudenzio Nazario. Tudo transcende tudo. 1994.