Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Fausto

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«Ao princípio, Pessoa quisera escrever uma verdadeira tragédia, tratar também, depois de Marlowe e de Goethe, o tema de Fausto, do seu debate com Deus e com o Diabo. Tivera até a ideia de retomar o mito no seu início, fazendo de Frei Gil de Santarém, cabalista português do séc. XIII, precursor do sábio Dr. Wittenberg, o herói do seu drama. Mas este projecto ficou pouco a pouco enredado na massa de reflexões propriamente ditas que nascem da sua própria actividade criadora. O Pessoa «paulista» narcísico, preso, como ele diz, na teia do seu excesso de consciência de si mesmo e da sua inteligência crítica, não pode evidentemente ter com a sua personagem a relação ingénua que Marlowe tem com a dele, e ainda menos a relação objectiva, soberana, que Goethe tem com o seu Fausto. Eduardo Lourenço, no seu prefácio intitulado Fausto ou a Vertigem Ontológica, diz: «À singular aventura representada pelo corpo a corpo com o mito de Fausto - que é já da ordem da criação na sua essência - sobrepõe-se uma aventura de outro género, a aventura de dar um corpo, existência, à escrita onde essa aventura primeira é substituída pela da dúvida acerca dos poderes mesmos da própria escrita». Em suma, a tragédia de Fausto torna-se na tragédia da tragédia. O tormento de Fausto-Pessoa é não saber como exprimir o seu tormento.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 194-195.
* Carlos Calvet. Fausto. Desenho s.d.