Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Precocidade

«Fernando, de uma precocidade excepcional, já com oito meses, segundo dizem, se interessava pelas letras do alfabeto. Tendo a mãe como única professora, sabia escrever com quatro anos. É deste período que data, ao que parece, o primeiro fenómeno de desdobramento da consciência que será o fulcro da sua obra. Este produz-se em duas etapas: o excesso de consciência de si mesmo e, depois, a dispersão do ego. Um poema de 1927 evoca a surpresa do rapazinho que, ao brincar com um brinquedo qualquer, descobre de repente que eu é Outro:
«Sentiu-se brincando
E disse, eu sou dois!
Há um a brincar
E há outro a saber,
Um vê-me a brincar
E o outro vê-me a ver...»
A outra etapa, um pouco mais tarde, com seis anos, é o aparecimento nele de outra personalidade diferente da sua, ou seja, do precursor dos «heterónimos», o Chevalier de Pas. «Escrevia cartas dele a mim mesmo», diria quarenta anos mais tarde com nostalgia. Este «herói dos seus seis anos» é francês, o que leva a supor que em criança já escrevia e falava bem a nossa língua, que lhe fora ensinada pela mãe. Este nome de «Pas» não é, aqui, o substantivo que designa o andar, e sim o advérbio de negação. Um niilismo destes tem qualquer coisa de assustador nesta idade.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 37-38.

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