Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Campos - Máscara

«Mas este tem com o seu demiurgo uma relação diferente daquela que o une aos outros heterónimos. Ele é, pelo tom e pelo estilo, o mais afastado de Pessoa, mas, pela inspiração, pela imaginação, pelo sentimento trágico da vida, o que lhe é mais próximo. Pessoa não pode tirar a «máscara» de Campos sem que a carne lhe venha agarrada. E é por isso que Campos, depois de 1916, nem morre, como Caeiro, nem se vai embora, como Reis. Muda, como se fosse uma pessoa realmente viva, modelada pelos acontecimentos, pelos encontros, pelo destino. Muda, como Pessoa. Mais, muito mais do que Pessoa. Ele é sempre Campos; a escrita, a personalidade, a «voz» continuam a ser as dele. Porém, o entusiasmo que o movia quebrou-se. Já não tem aquele dinamismo que se manifestava pelo entusiasmo ou pelo anátema e se exprimia em interjeições e em onomatopeias. Ao jovem poeta da Ode Triunfal e da Ode Marítima sobrevive um velho de quarenta anos, irmão gémeo do poeta ortónimo, que, esse sim, o acompanhará até ao fim do caminho.»
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 443.