Ficheiro de citações bibliográficas sobre a obra de Fernando Pessoa

Cepticismo

«Vítimas de um destino comum, Campos e especialmente o Pessoa ortónimo iludem o espinho do cepticismo e do tédio («Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!») com os sonhos, os acordes duma vaga música interior, as lembranças e as promessas de não sabem o quê - sempre com a lucidez melancólica de suspeitarem da irrealidade do que lembram ou esperam ou imaginam. Outra espécie de devaneio que compensa tristemente o cepticismo de Pessoa é o jogo da inteligência gratuita que concebe posições mentais possíveis e até antagónicas, como no debate estético Pessoa-Campos - jogo a que Pessoa chama "devaneio lógico", uma das suas "principais exterioridades". [...] o Pessoa das demonstrações lógicas diverte-se a manejar uma inteligência desligada do ser, instrumento com que se pode até provar o absurdo, o que não deixa de ter o seu interesse. Imita assim aqueles jogadores de xadrez que, a dois passos da cidade incendiada e saqueada, prosseguiram calmamente no seu jogo inútil - tema paradigmático de uma ode de Reis.»
Jacinto do Prado Coelho. Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo, 1973, p. 92

Ver Campos vs Pessoa